
Ao pensar em um título para este artigo, um trecho do Novo Testamento veio à mente, onde Jesus percorria as cidades, ensinando nas sinagogas e curando as enfermidades. Ao observar as multidões, Ele sentiu compaixão, pois estavam exaustas, como ovelhas sem pastor. Ele então disse aos discípulos:
“A messe é grande, mas os operários são poucos” (Mateus 9, 35-38).
Pode parecer estranho, mas essa mensagem não é tão distante da realidade atual. Embora estejamos falando sobre o setor farmacêutico, é fácil perceber a conexão com a situação enfrentada hoje: muitas vagas de emprego, mas uma escassez de profissionais qualificados para ocupá-las. Além disso, as vagas disponíveis frequentemente buscam pessoas mais jovens, que teoricamente estariam mais preparadas para a função.
Atualmente, é comum ouvir empresários e gestores de diversos setores queixando-se da escassez de mão de obra, especialmente para funções que exigem interação direta com o público. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no segundo trimestre de 2024, o Brasil registrou a menor taxa de desemprego em 10 anos, de 6,9%. No entanto, as vagas são muitas e os profissionais para preenchê-las, poucos. Mas afinal, o que está acontecendo?
No setor de farmácias e drogarias, a alta rotatividade e a escassez de candidatos para preencher vagas pontuais têm se tornado um desafio crescente. Para atrair talentos, muitas empresas têm oferecido benefícios além dos previstos por lei, como folgas no dia do aniversário, planos de saúde e odontológicos, academias e outras vantagens. Esses incentivos são uma tentativa de reverter o cenário atual e fidelizar colaboradores.
As principais oportunidades de emprego em drogarias envolvem funções diretamente ligadas ao atendimento ao público, como operador de caixa, vendedor, atendente e balconista. Embora se fale muito sobre a substituição de funções humanas pela inteligência artificial (IA), o atendimento pessoal continua sendo insubstituível, especialmente no setor da saúde. Isso ocorre porque a empatia e a capacidade de ouvir o cliente são habilidades que nenhuma máquina pode replicar completamente.

Com isso em mente, vamos explorar as principais questões que envolvem a escassez de mão de obra no setor farmacêutico e as estratégias para superar esse desafio.
Quais são os fatores que explicam a falta de profissionais no mercado de trabalho?
Como a pandemia influenciou a relação das pessoas com o trabalho?
De que forma a internet mudou as aspirações e escolhas profissionais dos jovens?
Por que muitos jovens evitam trabalhos convencionais e horários rígidos?
Como a população 50+ pode ser uma solução para a falta de mão de obra nas drogarias?
Quais estratégias as drogarias podem adotar para reverter o cenário atual?
Como superar os desafios de mão de obra e garantir o futuro do setor farmacêutico?
Entendendo a Escassez de Mão de Obra
É fundamental compreender os fatores que podem estar contribuindo para a falta de profissionais dispostos a ingressar ou permanecer no mercado de trabalho, mesmo com seus direitos garantidos. A seguir, apresento três fatores que ajudam a explicar esse cenário:
A Pandemia
O home office, que se popularizou durante a pandemia, proporcionou às pessoas a flexibilidade de trabalhar de casa, com horários adaptáveis e fora do estresse do trânsito. Essa nova realidade ofereceu maior autonomia sobre a vida profissional e pessoal, fazendo com que muitos trabalhadores buscassem novos negócios ou explorassem formas alternativas de trabalho fora dos modelos tradicionais. Por mais que a rotina de um emprego formal ofereça benefícios, ela não se compara à liberdade que muitos experimentaram no período da pandemia.
Com isso, diversas pessoas decidiram empreender ou trabalhar de forma autônoma, deixando suas antigas ocupações. Esse movimento tem impactos diretos em setores que dependem de funções presenciais, como o varejo farmacêutico, que precisa de mãos para operar diariamente.
A Influência da Internet
Caso fosse perguntado a um jovem de décadas passadas qual seria o emprego dos seus sonhos, ele provavelmente mencionaria um trabalho seguro, com carteira assinada, FGTS e a possibilidade de crescer na empresa. Hoje, muitos jovens têm uma visão diferente. A internet oferece inúmeras oportunidades, e ser youtuber, influencer ou gamer se tornou aspiração de muitos.
Essa nova dinâmica também transformou as expectativas sobre o que é considerado sucesso. Redes sociais estão repletas de conteúdos que mostram como ganhar dinheiro e ser um empreendedor de sucesso, e muitos seguem esse caminho. No entanto, essa proposta, embora atraente, nem sempre se encaixa na realidade de todos. Além disso, o mercado digital é competitivo, e poucos conseguem viver exclusivamente dessas atividades.
Ainda assim, o impacto dessa mudança é significativo. Muitas vagas que antes eram vistas como degraus para uma carreira sólida agora são ignoradas em busca de oportunidades aparentemente mais lucrativas e flexíveis.
Desafios do Mercado de Trabalho Convencional
Muitos jovens relutam em trabalhar aos sábados, domingos ou feriados, além de reclamarem dos salários e das longas jornadas de trabalho. Comparações com as condições oferecidas a influenciadores e outros profissionais que ganham valores expressivos por vídeos curtos geram descontentamento. Por exemplo, um influenciador digital pode ganhar R$1.500,00 por um vídeo de 30 segundos, enquanto um trabalhador CLT recebe R$1.412,00 por 24 dias de trabalho. Essas disparidades têm gerado grande frustração entre os trabalhadores, especialmente nas novas gerações.
O resultado é uma visão menos atrativa sobre trabalhos tradicionais, mesmo quando oferecem segurança e estabilidade. Muitas empresas estão tentando driblar esses desafios ao modernizar suas políticas de trabalho, oferecendo maior flexibilidade e oportunidades de crescimento.
O Futuro do Mercado de Trabalho e Oportunidades para a Faixa Etária 50+
Com o envelhecimento da população, o Brasil se aproxima de um momento em que uma grande parcela da população estará na melhor idade. Uma possível solução para esse cenário seria investir na contratação de profissionais 50+, conhecidos por sua empatia, cuidado e comprometimento. Esses profissionais também possuem experiência e estão mais propensos a se comprometer com a empresa.
Além disso, muitas empresas do setor de alimentos e farmácias têm adotado soluções tecnológicas, como os totens de autoatendimento (self-checkout), para suprir a falta de mão de obra. Essas inovações ajudam a otimizar o trabalho, mas não substituem a necessidade de interação humana em determinadas situações.

Descubra como a digitalização tem impactado o setor farmacêutico, impulsionando pedidos e modernizando processos. Clique aqui. |
Empresas que investem em diversidade etária têm muito a ganhar. A combinação de profissionais mais experientes com jovens cheios de energia cria um ambiente de trabalho equilibrado, onde experiência e inovação caminham lado a lado.
Estratégias para Reverter o Cenário Atual
Embora este momento possa parecer desafiador, desistir não é uma opção. Para aqueles que escolheram estar ao seu lado, é fundamental criar um ambiente acolhedor na drogaria, oferecer benefícios exclusivos e não negligenciar a tecnologia, que pode ser uma grande aliada daqui para frente. Abaixo estão algumas ações que podem ajudar a reverter o cenário:
1. Treinamento contínuo: Oferecer capacitação aos colaboradores é essencial para mantê-los motivados e atualizados. Treinamentos também ajudam a melhorar a qualidade do atendimento, o que reflete positivamente na fidelização dos clientes.
Saiba mais sobre como preparar sua equipe para o futuro do varejo farmacêutico neste artigo sobre a importância do treinamento nas drogarias. |
2. Ambiente de trabalho agradável: Um ambiente acolhedor e respeitoso é um diferencial importante. Empresas que valorizam seus colaboradores tendem a ter equipes mais engajadas e produtivas.
3. Flexibilidade: Sempre que possível, oferecer escalas de trabalho mais flexíveis pode ser um diferencial para atrair profissionais, especialmente as novas gerações.
4. Reconhecimento e benefícios: Programas de reconhecimento, como bonificações por metas atingidas, podem fazer a diferença na retenção de talentos.
5. Tecnologia como aliada: Investir em tecnologia para otimizar processos é uma forma de melhorar a eficiência sem sobrecarregar os colaboradores.
Como Superar os Desafios de Mão de Obra
O atual cenário do mercado de trabalho exige inovação e flexibilidade. As empresas precisam ir além do convencional, valorizando tanto a experiência dos profissionais 50+ quanto as aspirações das novas gerações. Investir em tecnologia, oferecer benefícios atraentes e criar um ambiente acolhedor são estratégias fundamentais para atrair e reter talentos.
Superar a escassez de mão de obra não se resume a preencher vagas, mas a construir equipes motivadas, preparadas e alinhadas ao propósito organizacional. Com isso, será possível enfrentar os desafios do mercado e garantir um futuro mais promissor para o setor.